Mamãe, no dia 15 de Julho de 2015 faremos uma excursão para o CINEMA, assistiremos o filme DIVERTIDAMENTE, no shopping Butantã, por favor assinar a autorização anexa e nos devolver até tal dia.
A primeira excursão chegou e eu me ví a alí, encurralada em meio as minhas loucuras dúvidas.
Deixar ou não deixar o Nickolas, com apenas 2 anos e 5 meses
ir ao cinema?
Primeiro veio o sentimento de ciúmes:
Poxa como eu iria
deixar ele fazer um passeio que nunca fez comigo? Eu gostaria de presenciar esse
momento, queria estar junto, ver a carinha dele quando entrasse numa sala de
cinema e visse aquele telão gigante, o som alto, queria lhe dar um pacotão de
pipocas e perderia o filme todo a apreciar aqueles olhinhos negros brilhantes.
Mas se ele fosse com a escola eu não presenciaria nadinha isso.
Depois chegou o sentimento de culpa:
Eu tinha certeza de que
ele teria um dia muito feliz ao lado dos amigos e nem lembraria de minha
humilde existência naquele momento (oi???), ele aproveitaria, seria ele mesmo,
desfrutaria daquela "tal liberdade", ficaria totalmente entregue, então porque eu iria querer
excluí-lo disso tudo?
Na sequência o sentimento de insegurança:
Massss, como seria
o trajeto? Todos estariam de cinto de segurança? E se a peruinha.... E se
quando chegassem no shopping o Nickolas largasse da mão dos amiguinhos e....E se
na sala de cinema algum sequestrador sentado no banco de trás o puxasse
discretamente enquanto todos estivessem assistindo o filme? E a pipoca....A
pipoca meu Deus, se ele engasgasse...... (pausa pro pânico).
Juro, por certas vezes sinto constrangimento de alguns
pensamentos, mas sou assim, não sei se todas as mães são, mas na minha cabeça
abriu-se um leque com cada possibilidade de histórias para aquele dia, e isso
me fez pensar e repensar exaustivamente.
Conversei com algumas amigas e como era de se esperar, as que eram mães concordaram
com meus questionamentos, as que não eram simplesmente soltaram um: "Você é
mais louca do que eu pensei".
Sim, meu plano era comprar ingressos para a mesma sessão e
ficar lá escondidinha. Mesmo que distante eu poderia acompanhar de pertinho e
estaria a postos para salvar meu filho quando o sequestrador de criancinhas lindas
e cabeludas aparecesse.
O marido fez o fofo e me deixou a vontade para lidar com a
situação, me disse que se a insegurança me dominava, que agisse conforme meu
coração pedisse (isso explica porque o escolhi).
Um dia antes, resolvi atormentar conversar com a diretora da
escolinha e ela me ouviu pacientemente, me disse que super entendia aquela preocupação, afinal
ela também é mãe, mas me repetiu algumas vezes a seguinte frase:
“calma, não somatiza....calma não somatiza”... calma não somatiza...
“calma, não somatiza....calma não somatiza”...
E aquelas palavras pesaram.
Eu pensei por mais um dia e finalmente resolvi: eu deixaria o Nick ir.
Não iria seguir o fretado, não iria contratar um detetive particular, tampouco compraria ingressos para a mesma sessão. Eu deixaria ele ser feliz com seus amigos.
Ele precisava se divertir, afinal era mês de férias e como a
maioria das mães normais iria deixar,
somente meu pequeno ficaria na escola, e não, não seria justo com ele.
Porémmmmm, entretanto, todavia eu felizmente trabalho bem
perto do shopping em que a sessão aconteceria (arrasou Papai do Céu) e mais, todo dia na hora do
almoço algumas vans fazem o transporte do meu trabalho até lá, pensaram comigo???
(hahahahaha)
Ah gente, não teria mal nenhum eu ir olhar a excursãozinha
passando de longe né? (a própria professora me disse que se quisesse poderia
aparecer, eu juro).
No dia marcado lá eu estava. Mãos geladas e um tremendo
nervoso, medo de que o Nickolas me visse e que colocasse tudo a perder, medo de
me sentir uma palhaça quando cruzasse os olhos com as “tias”, enfim, já que eu estava lá o jeito era colocar o nariz de palhaço enfrentar.
E assim foi, fiquei camufladinha em uma loja que era quase de
frente ao cinema e de longe observei um trenzinho humano se aproximar, e para
minha surpresa o primeiro da fila era o Nickolas :), sim, ele era o que segurava
nas mãos da professora (acho que elas ficaram tão assustadas com meus
questionamentos e ameaças que não quiseram arriscar, rsrsrs).
Naquele momento lágrimas caíram,
eu pude ver ele passeando sem sua mamãe, primeiro momento fora da escola com
seus amiguinhos, com olhares que iam de vitrine em vitrine, maravilhado com a nova experiência.
Fiquei ali observando durante os 20 minutos em que
permaneceram sentadinhos nas proximidades da bilheteria, esperei até o
momento em que entraram na sala e desapareceram. Fui embora.
O passeio foi maravilhoso e segundo as professoras o Nick
parecia estar em um mundo a parte, dava gargalhadas a cada mãozinha cheia de
pipoca que comia.
O que ficou foi a sensação de que sim, eu quero que ele
aproveite e seja terminantemente feliz ao máximo que puder.
Não, não me senti/sinto culpada por ter ido até lá de
nenhuma forma, eu precisava me sentir segura e agora sei que terei mais
tranquilidade para analisar esses passeios.
Nós que somos mães sabemos o quanto a sociedade nos julga
por qualquer ato que não vá de encontro com o politicamente correto, porém,
para mim o politicamente correto é andar de acordo com que o meu coração dita,
e naquele momento eu o fiz...
Filho, eu te amo e vou te proteger até o limite do que posso
imaginar, você trouxe luz pra minha vida e um amor que dói pro meu coração, meu
cabeludinho.
Perdoa as maluquices de sua mamãe vai?